Nunca fui muito de ler livros sobre Harry Potter. Leio a saga repetidas vezes e venho fazendo isso pelos últimos catorze anos da minha vida, mas nunca tive muita paciência para livros sobre a saga. Tenho alguns exemplares em casa, como “O Mundo Mágico de Harry Potter” (David Colbert, Sextante) e “Harry e Seus Fãs” (Melissa Anelli, Rocco). O primeiro foi um presente que eu mal abri e o segundo me chamou a atenção pelo prefácio escrito pela própria Rowling. De resto, sempre passei longe de títulos que gastam incontáveis páginas interpretando a saga de forma errada.
Mas esta é a grande questão, o que exatamente define uma interpretação como certa ou errada? Claro que sair do cinema ao fim de Relíquias da Morte Parte 2 achando que o Snape é o pai do Harry é uma interpretação errada, embora bastante popular. Por outro lado, achar que Dumbledore era apaixonado por Grindelwald, embora não há provas nas páginas do livro, é algo aceitável, porém não obrigatório. Há aqueles que acham que eram apenas amigos, e estes também não estão errados.
Já fui chamado de poser, por volta de cinco anos atrás, por não possuir nenhuma fantasia. Já vi gente sendo chamado de poser por, com muito custo, convencer a mãe a comprar um DVD de O Prisioneiro de Azkaban já em 2010. E devo dizer, foi aquele menino, com aquele brilho no olhar quando a mãe lhe entregou o DVD, que me ensinou o que é um fã de verdade. Pouco importa se você tem algo que ninguém mais tem, o que importa é o quanto gostamos da saga e o que ela representa para cada um de nós.
Para mim, Harry Potter representa minha vida. Aprendi inglês lendo os livros entre 2003 e 2005 (ao lançamento de Deathly Hallows eu já estava com diploma embaixo do braço) e em 2007 me tornei professor de inglês, profissão que exerço até hoje com muito orgulho, sempre lembrando que foi Rowling quem me ensinou quase tudo o que eu sei.
Para muitos, Harry Potter representa uma mudança drástica em suas vidas. Seja uma profissão, seja escapar da realidade ao redor, seja finalmente fazer amigos com base em um gosto comum. Alguns fãs deram mais sorte, puderam estar na presença da autora, outros apenas sonham em tanto que gostariam de agradecer a ela um dia. Alguns fãs participaram de discussões, teorias, semanas a fio onde se falava apenas do que aconteceu no livro mais recente e no que o próximo nos traria.
Outros fãs descobriram a série no primeiro trailer de Animais Fantásticos e Onde Habitam e, por mais que leiam e vejam tudo, não poderão voltar no tempo para ter a experiência de um lançamento Potter. Talvez esta seja a maior importância de Harry Potter e a Criança Amaldiçoada. Que atire a primeira pedra filosofal o fã que não vê a hora de poder voltar (ou começar) a discutir infinitamente os eventos da oitava história!
É claro, como em qualquer coisa que se estuda e se aprende, Harry Potter oferece vários níveis de compreensão e conhecimento, passando por estruturas literárias, história do mundo, ficção científica, mitologias e vários outros aspectos presentes na série que a fazem tão atraente para tantas pessoas. Não diferente de qualquer assunto que se analise, principalmente por tanta gente, é de se esperar que os fãs se segreguem de acordo com interpretações e conhecimentos similares. Belo exemplo disso são os “ships”, idealizações de casais que podem ou não acontecer no enredo oficial da história, mas este assunto fica para outra coluna.
Alguns meses atrás eu cansei de vez de lidar sempre com pessoas cuja arrogância as fazem achar que são as únicas a compreender a história e acabam dizendo coisas como “impossível o Harry saber que os pais morreram num dia das bruxas antes de ver a lápide deles, pois os Dursleys não contariam” quando Hagrid conta isso no primeiro encontro com Harry. Ou ainda quando fazem inforgráficos gigantescos calculando os custos de estudar em Hogwarts e revelam como notícia bombástica o twitt de Rowling dizendo que Hogwarts não é paga, quando até o Dumbledore já disse ao jovem Tom Riddle que Hogwarts possui um fundo para alunos necessitados. Era sempre tanta coisa errada, tanta falta de percepção do universo sendo jogada como verdade (como quem diz que o símbolo das Relíquias da Morte é composto da varinha, da pedra filosofal e da capa) que eu criei um grupo fechado e batizei, à luz da própria arrogância, de “Harry Potter – Alunos Avançados”. Para entrar, é necessário acertar duas perguntas entre três. E, mesmo que você não queira, vou propor o desafio. Será que você consegue acertar ao menos duas? Até hoje somos apenas 18 membros.
01. O que impede o Neville de ser considerado “O Eleito”?
02. A que se refere “A Falha Do Plano”, título do capítulo final da série?
03. De todas as mortes de “bons personagens” no último livro (Edwiges, Moody, Fred, Remo, Tonks, etc.), justifique uma para o enredo da história.
Proponha a você mesmo o desafio. Tente responder sem pesquisar, afinal estas perguntas são, como o começo da coluna sugere, interpretação. E não se esqueça de sempre manter a discussão saudável das ideias.
PotterCave © 2020
