Esta foi a primeira estatueta que o Mundo Mágico de J.K. Rowling recebe desde sua primeira indicação em 2002 com Harry Potter e a Pedra Filosofal e marca positivamente o fim de um chamado "desprezo" da Academia pelos filmes da série. No artigo abaixo, relembramos a história de Harry Potter no Oscar e comentamos sobre o que essa primeira estatueta representa não apenas para o futuro, como também para toda a trajetória dos filmes de Harry Potter. Confira:
Os dez anos de indicações até a primeira fantástica estatueta dourada
Por Julio Cesar Vieira
As primeiras indicações chegaram ainda em 2002, quando a
franquia Harry Potter nos cinemas era ainda uma novidade, já expressamente
conhecida, mas que veria expandir seus horizontes em níveis extraordinários nos
anos posteriores. Mas em 2002, Pedra Filosofal foi indicado ao Oscar em três
categorias: Melhor Direção de Arte (Que premiou Moulin Rouge – Amor em
Vermelho); “Melhor Figurino” (Que garantiu mais uma estatueta para Moulin Rouge)
e por fim, “Melhor Trilha Sonora” (Que premiou outra estreia de fantasia, O
Senhor dos Anéis – A Sociedade do Anel). Porém, mais do que voltar para casa
sem qualquer estatueta nas mãos, 2002 marcou o início de uma verdadeira “estranheza”
a série Harry Potter aos olhos da Academia.
Isso porque apenas três anos depois, em 2005, Harry Potter e
o Prisioneiro de Azkaban seria agraciado em duas indicações ao Oscar daquele
ano, repetindo a indicação anterior em “Melhor Trilha Sonora” (Que ficou para
Em busca da Terra do Nunca) e agora também em “Melhores Efeitos Visuais” (Que
premiou Homem-Aranha 2).
Cálice de Fogo, em 2006, garantiu a série sua sexta indicação
ao Oscar, desta vez na categoria de “Melhor Direção de Arte” (Que ficou ao
gosto de Memórias de uma Gueixa). Em 2010, Harry Potter e o Enigma do Príncipe
seria indicado na categoria de “Melhor Fotografia” (Que perderia, mais uma vez,
para o filme Avatar). Em 2011, Relíquias da Morte: Parte 1 seria indicado em
duas categorias já conhecidas da franquia, novamente em “Melhor Direção de Arte”
(Dando a estatueta para Alice no País das Maravilhas) e “Melhores Efeitos
Visuais” (Que ficou com o filme A Origem). 2012 seria a última oportunidade da
franquia conquistar uma estatueta dourada, isso porque o último capítulo da história
original de Potter chegava aos cinemas e Warner Bros. reforçou uma campanha estrondosa na busca em mostrar para a Academia seu desejo de uma estatueta para Potter. Relíquias da Morte: Parte 2 chegou a
ser indicado em três categorias: “Melhor Direção de Arte” (Que perdeu para A
Invenção de Hugo Cabret); “Melhores Efeitos Visuais” (Também perdendo para Hugo
Cabret) e “Melhor Maquiagem” (Que ficou com A Dama de Ferro).
Ao todo foram 12 indicações e 10 edições do Oscar em que a
franquia Harry Potter esteve presente, infelizmente apenas como indicado. Na
época, uma reportagem publicada pelo Estadão estampava a manchete “Harry Potter
e o estranho caso de desprezo do Oscar”, na reportagem John Richardson, o
supervisor de Efeitos Visuais dos últimos filmes da franquia, argumentava a
política de votação da Academia, em uma de suas falas aponta “Recebemos três indicações da Academia por provavelmente um dos
filmes mais bem feitos e de maior bilheteria do ano”.
E este é
um ponto de extrema importância a ser analisado, justamente porque os filmes de
Harry Potter nunca decepcionaram em suas bilheterias, batendo recordes atrás de
recordes. Sem desmerecer quaisquer um dos filmes que ao longo desses dez anos
de indicações venceram os Potters, claramente havia uma certa disparidade entre
o trabalho detalhista e meticuloso que foi sendo inserido em cada um dos filmes
da franquia e a escolha dos jurados da Academia. Em muitas (e muitas vezes), os
filmes de Harry Potter tiveram reais chances de levar a estatueta, por seu
desempenho singular nas categorias em que foi sendo indicado, como o Design de
Produção (Aos méritos do espetacular Stuart Craig) e de Efeitos Visuais.
O fato
de Harry Potter não ter conquistado nenhuma estatueta nesse longo espaço de
tempo revela esse orgulho da Academia em premiar filmes que fossem estrangeiros ou mesmo que estivesse inserido em uma franquia bilionária da dimensão a que
Harry Potter chegara. Nem em seu último capítulo, onde então teria sua última
oportunidade de ganhar, Harry Potter esteve nos envelopes lacrados. É claro que
para nós – fãs e admirados da Saga – ganhar ou não um Oscar não modificaria nem
a importância nem os sentimentos para com a franquia. De fato, possivelmente,
ao menos em termos lucrativos, a presença de um Oscar tampouco teria
ressonâncias para a franquia.
No entanto, há uma questão de reconhecimento
que é relevante. O Oscar, em sua magnitude e exposição, representa não apenas a
escolha de um grupo de jurados para os melhores filmes do ano, mas um
reconhecimento de longo prazo da contribuição desses filmes e dos profissionais
por trás de cada detalhe desses filmes. O reconhecimento do quanto esses filmes
contribuíram para a linguagem cinematográfica. E não há dúvidas do quanto a
franquia Harry Potter contribuiu para o cinema britânico e mundial, revelando
um amadurecimento que acompanhou os avanços tecnológicos e todas as expansões
de possibilidades de ferramentas que permitiram que profissionais talentosos e
competentes pudessem dar vida as palavras de uma história com feitiços, lugares
excêntricos e animais fantásticos.
Aliás,
Animais Fantásticos. Na noite de ontem, a 89º edição do Oscar premiou pela primeira
vez um filme do Mundo Mágico de J.K. Rowling. Concorrendo em duas categorias
(Das quais os filmes de Harry Potter haviam sido indicados tantas vezes), “Melhor
Design de Produção” e “Melhor Figurino”, Animais Fantásticos levou a estatueta
nessa última categoria. Colleen Atwood é o nome da mulher responsável por
recriar toda a indumentária inspirada nos anos 1920 de Nova York e dar um ar
todo mágico para as paletas de cores, as texturas e os movimentos que
caracterizam e revelaram aspectos da personalidade de cada personagem. Atwood
não é inexperiente, ela também foi a figurinista de célebres filmes como
Chicago, Memórias de uma Gueixa, a versão Tim Burton de Alice no País das
Maravilhas, Edward Mãos de Tesoura, Branca de Neve e o Caçador, entre vários
outros. Animais Fantásticos e Onde Habitam rendeu a Colleen sua quarta
estatueta.
Mas o
reconhecimento da Academia do trabalho de Atwood representa também uma
devolutiva a todas as expectativas que foram sendo cultivadas nas 12 indicações
dos filmes de Harry Potter (E há quem diga que possa até mesmo ser entendido
como uma retratação). De todo modo, esse prêmio tem sim sua importância e
significado para a série e consequentemente, para todos os fãs. Embora cada
prêmio seja entregue de forma individual, avaliando o aspecto de cada categoria
para cada filme em particular, a estatueta que agora acompanha apenas o
primeiro volume dessa nova série de filmes do mundo mágico, garante que
finalmente, após quase duas décadas, a Academia deixa de lado sua “estranheza”,
ou ao menos compactua melhor com a qualidade técnica e artística que esses
filmes mostraram e que Animais Fantásticos permaneceu tão fielmente.
De várias
maneiras, a importância desse prêmio não apenas acompanhará os filmes que ainda
serão lançados daqui para frente, mas honra e consagra igualmente os oitos
filmes de Harry Potter que o antecederam. E para nós isso se assemelha a uma
sensação de alívio por esse símbolo tão relevante do cinema. De agora em
diante, permanecemos na expectativa de que os próximos quatro longas da
franquia “Animais Fantásticos” não apenas estejam presentes nas indicações do
Oscar, como continuem conquistando novos prêmios. Mas caso não conquistem:
malfeito feito.
Sempre
teremos uma grande produção do mundo mágico para ver e rever.



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